Foto: Forest Comunicação |
Por Lázaro Thor Borges
em Olhar Direto
O aumento gradual de suicídios entre os povos indígenas entrou no rol das preocupações do Ministério Público Federal em Mato Grosso (MPF-MT). No último dia 26 de maio, uma portaria aberta pelo procurador Rafael Guimarães Nogueira da Procuradoria de Barra do Garças visa “investigar aumento de casos de suicídios entre os indígenas da etnia Karajá”. O documento versa principalmente sobre a preocupação com a elevação no número de registros de suicídio de jovens daquela etnia.
Os Karajás, que no Mato Grosso vivem nos municípios de São Félix do Araguaia, Luciara e Santa Terezinha, são um dos povos mais afetados pelo problema. Nos últimos anos, o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do Araguaia registrou 49 casos de suicídio na região. O MPF, no entanto, adverte sobre a possibilidade deste número ser ainda maior.
Em ofício enviado ao órgão, o coordenador do Dsei Araguaia, Antônio Fernandes Ferreira, explicou que o departamento vem realizando atividades específicas para combater o problema, mas admitiu que os números de índios que atentam contra a própria vida vem aumentado entre os Karajás, principalmente entre os mais jovens.
“O Dsei Araguaia vem tomando providências diante desses fenômenos nas comunidades Karajás onde de fato a situação dos nossos povos indígenas requer cuidado especial”, diz trecho do documento enviado em resposta ao pedido de informação da Procuradoria de Barra do Garças.
Segundo especialistas, as causas para este aumento são variadas. O álcool, as drogas e a perda da identidade cultural são um dos motivos elencados. Para a antropóloga Mônica Thereza Soares Pechincha da Universidade Federal do Goiás (UFG) o suicídio pode ser apontado como fruto da desorganização da sociedade indígena, afetada em seu sistema de vida.
“Os Karajá muito falam da influência das imagens dos brancos sobre os jovens, sobretudo veiculadas pela televisão. Uma vez que o desejo pelos objetos industriais dos brancos figura como o principal fator de lançamento ao ato suicida, como também um estilo de vida e de gozo associados, de imediato se coloca a provocação em refletir como este ‘feitiço’ opera entre os Karajá.” Explica a professora em seu artigo entitulado “O suicídio Karajá Fora da Lei”.
Segundo a militante e pesquisadora Naine Terena, o problema do suicídio, assim como as demais questões de saúde indígena, está diretamente ligado ao avanço de políticas sensíveis à população indígena, defendidas principalmente pela bancada ruralista no Congresso Nacional.
“Esta taxa [de suicídio] tem aumentado principalmente por conta da falta de segurança de vida, não só entre os Karajás mas também entre os outro povos. Se você não tem terra, você não tem como viver e as pessoas vão saindo e vão sendo introduzidas a um sistema de vida que causa um impacto psicológico muito forte. Isso é levado de fora para dentro”, afirma ela.
Suicídio entre os Karajás:
O povo indígena Karajá se autodenomina Iny Mahãdu, ou simplesmente Iny. A etnia habita os estados de Mato Grosso, Pará, Goiás e Tocantins. O rio Araguaia é a principal referência ambiental deste povo, que são exímios pescadores e canoeiros. Não à toa a mitologia dos Iny lembra que o povo surgiu da água em direção à terra.
O suicídio nas tribos Karajás não é um fator recente. Há pelo menos quinze anos que a taxa deste tipo de morte vem aumentando, segundo dados do próprio Dsei Araguaia. Um estudo publicado pelas pesquisadoras Daiane Borges Machado e Darci Neves dos Santos demonstrou que a taxa de suicídio entre o Karajás é pelo menos 168% maior do que dos demais brasileiros.
Internamente, as lideranças levantam a questão do ‘feitiço’, como causa principal das mortes. Como o suicídio não é um problema que não é retratado pelas etnias, defende-se que os jovens são ‘tentados’ a se matarem por espíritos malignos.
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