Uma "cangaceira" indigenadescendente que nada tem a esconder

 

Por Tereza Amaral

 

Muitos de vocês sequer imaginavam nascer - e falo até para lideranças indígenas - quando eu já me localizava ao lado dos povos originários. E vale ressaltar que a palavra ativista era fora de uso. Sim, senhores! E a minha história começou quando, ainda criança,  os via nos livros didáticos longe de serem folclore, mas seres que me encantavam. Ali eu  sabia que a oca nao era oco.

Além disso, tive a sorte de ter um pai, Luiz de França Amaral, tabelião do Cartório de Imóveis de Afogados da Ingazeira, no Sertão do Pajeú, um ser humanista especialíssimo. Ele foi o único intelectual que conheci (não falo em intelectualóides), saxofonista, que nos ensinava Ciência, por exemplo, com um telescópio - na calçada da nossa casa - isso sem falar nas madrugadas em que íamos com ele com cacos de vidro manipulados (nao sei exatamente o que fazia) para vermos cometas que não passariam mais.

Meu pai, que faleceu em 14 de Dezembro de 1976, vem de uma familia de tabelionato. Na época, era vitalício e hereditário e na sua cidade, Afogados da Ingazeira,  conheceu em um júri a minha mãe, Maria Estelita Perazzo Leite, com quem casou. Meus pais tiveram sete filhos e adotaram um. Ele me falava que sua família era originária de Custódia, uma cidade próxima, porém nunca fui e nem recordo de ele ter estado lá. Aos domingos, costumavámos, sim, ir a Tuparetama, cidade natal da minha mãe.

No sertão as famílias se entrelaçavam por meio de casamentos. Meu pai também tinha parentesco com a família  Queiroz, Góes - existem parentes em Afogados-,  pessoas decentes, honestas.

Pois bem, aqui, e falando com o coração, venho tentar esclarecer a suspeição de eu ser uma infiltrada na causa indígena, em especial no Mato Grosso do Sul. O motivo seria o fato de dois irmãos Amaral Góes terem atentado contra a vida de um indígena Terena.

Estou fazendo este comunicado e me expondo para todos, inclusive, para esses ilustres desconhecidos que, possivelmente, migraram para Miranda (MS) pelo imenso respeito à memória do meu pai, por respeito a mim e pela causa que defendo.

Neste Blog noticio sobre todas as etnias, mas em estreita relação com os povos Guarani-Kaiowá e por um motivo simples: o genocídio e a injustiça que vem ocorrendo naquele estado.

Se inexiste alguém infiltrada, mas agora também no alvo desses Amaral, esta pessoa sou eu. Pesquisando no Google vi que  há brigas e mortes envolvendo os Amaral  daquele município. Caso os irmãos sejam das mesmas famílias, muito possivelmente são de Custódia. Também podem ser de outras cidades do sertão do Pajeú, uma vez que há ramificaçoes em Tabira, por exemplo, distando cerca de 34 km da minha cidade, dentre outras localidades pernambucanas.

Se são laranjas, pistoleiros ou fazendeiros eu não sei e afirmo: fui surpreendida quando li os sobrenomes em matéria do site Campo Grande News. Cabe a Policia levanter a folha dos mesmos e saber quem são. Quanto a mim, certamente ganhei mais inimigos. E perigosos. Mas nao os temo! Em mim habita uma cangaceira.

Estou tentando  manter contato com um memorialista da minha cidade natal para que possa falar sobre a minha árvore genealógica paterna, mas, lamentavelmente, não consegui até o fechamento deste comunicado.

E tentando racionalizar sobre a suspeição de alguns  tento entender como sendo uma desconfiança normal de um povo tão violentado em seus direitos e até traído por indígenas cooptados pelo agronegócio. 

Mas também deixo aqui algumas informações e indagações relacionadas às fotos acima, a seguir:

 

- A primeira foto é de uma jovem que na década de 80 já lutava contra a segregação. E sozinha. Nunca trabalhei para nenhuma entidade e nem ganhei um único centavo com o ativismo até esta data.

 

- Por que, no decorrer do tempo, eu continuaria defendendo os indígenas se não fosse simplesmente por amor e Justiça? Em 87, eu estava no Pará - meu segundo estado - quando Tuira Kayapo enfrentou o então diretor da Eletronorte com um facão. Ali eu me encantei mais ainda e ia, inclusive, passar três meses na aldeia Gorotire, do cacique Paulinho Payakan, tendo desistido devido à  monstruosidade que fizeram com ele -  estampado na capa da Veja com a manchete O Selvagem, às vesperas da Eco 92.

 

- Por que motivo eu iria arranjar poderos inimigos da Famasul, Acrissul, além de policiais e políticos, conforme denuncio em meus blogs?

 

- Por que ficaria dias e noites enviando e-mails e pressionando as autoridades durante sistemáticos cercos de pistoleiros querendo assassinar lideranças, tais como o cacique Ládio Veron?

 

- Estive aqui, em Olinda, com Oriel Benites . Procurem saber de mim com ele. Muitos acreditam que tenho acesso a informações da Aty Guasu. Puro engano. Latifundiários até acham que sou "assessora". Pensem...

 

- Eu poderia ficar aqui fazendo inúmeras indagações, mas vou deixar que o tempo aja...A minha luta inclui palestra em escolas, manifestações e etc.

 

Enquanto esse doloroso equívoco não for esclarecido ficarei afastada das minhas funções nos Blogs, Fanpage e Facebook.

 

Atenciosamente,

 

Tereza Amaral

 

Recife, 03 de Junho de 2015