Relatório aponta falhas na imunização de povos na região do Alto Rio Negro; ministério diz que elaborou plano para aprimorar vacinação
BRASÍLIA - Milhares de indígenas que vivem na região do Alto Rio Negro, região norte do Estado do Amazonas, não receberam uma dose sequer de vacinação neste ano. O dado faz parte de um relatório concluído em agosto por técnicos da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde.
A população indígena da região chega a aproximadamente 30 mil, distribuídos em 23 etnias em uma área de 295 mil quilômetros quadrados entre os municípios de Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos e São Gabriel da Cachoeira.
Segundo o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Alto Rio Negro, de janeiro a julho de 2016, 17% das 620 comunidades indígenas atendidas pelo Dsei ficaram sem vacina. No município de São Gabriel da Cachoeira, que concentra 539 comunidades, 89 estavam desassistidas até julho. Em Barcelos, 15 das 37 aldeias não receberam vacinação.
“Chegamos a uma situação alarmante. As pessoas estão vulneráveis e as condições têm piorado ano após ano”, disse o indígena Marivelton Rodrigues Barroso, diretor da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn). “Há falta de recursos, combustíveis e pessoal treinado para atender a população. Dez anos atrás funcionava melhor do que hoje”, afirmou.
A população indígena possui um calendário de vacina que envolve 18 imunobiológicos, mais a vacina influenza, utilizada na campanha anual. “No entanto, existem muitas dificuldades para completar o esquema vacinal preconizado para essa população, principalmente pela diversidade cultural, dispersão geográfica e difícil acesso a algumas localidades onde vivem esses povos”, afirma o Dsei, no relatório.
“O orçamento anual da saúde indígena saltou de R$ 165 milhões para R$ 1 bilhão sem que isso corresponda a efetiva melhora da saúde nas comunidades indígenas. O que os dados mostram é um aumento de remoções para as cidades em detrimento da presença de funcionários da Sesai em área realizando trabalho de prevenção e de atendimento”, diz Ana Paula Caldeira Souto Maior, advogada do Instituto Socioambiental (ISA). “Além disso, os profissionais de saúde indígena que moram nas comunidades não recebem a capacitação necessária. É um alerta para o Ministério da Saúde: a saúde indígena está doente.”
Questionado sobre a situação dos povos indígenas da região, o Ministério da Saúde declarou que elaborou um plano para aprimorar as ações de vacinação no Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Alto Rio Negro. “O plano prevê, até o mês de dezembro, a realização de 84 entradas com vacinas em todos os polos Base da região do município de São Gabriel da Cachoeira (AM). Esse plano foi construído em conjunto com o Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi), lideranças indígenas e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai)”.
Segundo o ministério, entre as ações previstas estão aquisição de insumos, equipamentos e novas escalas de trabalho para equipes de saúde em área para ampliar o atendimento, principalmente nas ações de imunização. “Cabe ressaltar ainda que, normalmente, existem muitas dificuldades para completar o esquema vacinal preconizado para a população indígena, principalmente pela diversidade cultural, dispersão geográfica e difícil acesso a algumas localidades onde vivem esses povos”, informou o ministério.
Para enfrentar os problemas de deslocamento na região, o Ministério da Saúde declarou que firmou uma parceria com o Ministério da Defesa para facilitar a locomoção de equipes e pacientes. Segundo a pasta, uma unidade do Exército Brasileiro de São Gabriel da Cachoeira colocou à disposição voadeiras com pilotos para acompanhar as equipes do Dsei, além de disponibilizar vagas em voo até o Polo Base de São Joaquim e demais localidades.
Apesar dos problemas, o ministério afirmou que a assistência à saúde prestada à população indígena tem registrado avanços nos últimos anos. “Entre os avanços está a cobertura vacinal, que vem crescendo ano a ano, tendo já alcançado 78,9% das crianças indígenas menores de sete anos em 2015, contabilizando mais de 99 mil crianças vacinadas. Vale lembrar que a adesão à vacinação também é impactada por aspectos culturais muitas vezes determinantes nos povos indígenas.”
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